domingo, 22 de fevereiro de 2009

Curiosidades

"Viagens são fatais ao preconceito, à discriminação, à visão estreita, e muitos do nosso povo precisam terrivelmente de viagens, por causa disso. Uma visão ampla, integral e caridosa das pessoas e das coisas não pode ser adquirida vegetando num cantinho do planeta durante a vida inteira" 
Mark Twain


Em nossa viagem nos deparamos com algumas coisas no mínimo curiosas, diferentes daquelas que conhecemos no Brasil. Outras coisas foram incluídos na categoria de curiosidades, por serem fatos um pouco inusitados...

  • Calibradores: Em algumas cidades da Argentina e, principalmente no Chile, os calibradores estão localizados em borracharias, vizinhas ao postos e não dentro dos postos como aqui em nosso país. Mais inusitado ainda são os modelos que eles tem... alguns tem duas mangueiras idênticas, uma é utilizada para calibrar e a outra para medir a pressão dos pneus... Como ambas são iguais, você fica tentando adivinhar qual é a certa...
  • Preço do combustível: Já falei sobre isso em outro post, mas lá vai. Em algumas cidades Argentinas, localizadas em zona de fronteira, o combustível para estrangeiros chega a custar 60% a mais que para o cidadão do país... A dica é abastecer nos postos fora das cidades ou apelar para que o frentista não lembre disso.
  • Ventos: Principalmente na região Patagônica os ventos são companheiros incômodos, mas que te mantém alerta e acordado. Isto ocorre pois eles são tão intensos que exigem do motorista uma contínua e insistente correção do rumo do carro, senão... Então, quando entrarem na região dos ventos, tenham cuidado, acostumem-se com as novas reações do carro, para somente a partir daí voltarem a pisar fundo naquelas retas intermináveis. Nas proximidades de Rio Gallegos, vimos uma cena inacreditável: um pássaro de médio porte estava "parado" no ar, mais parecendo um helicóptero, tudo por conta da velocidade do vento local.
  • Maior variação térmica: Aqui podemos contar dois fatos e vocês podem julgar qual será considerado como a maior variação. No dia 04/01 dormimos em Puerto Pirâmides e a temperatura, por volta das 19h era de 37º. No dia seguinte, na chegada à Puerto San Julian por volta das 17h, a temperatura era de 6º e muito, mas muito vento... A segunda esperiência foi na entrada da região dos Pampas, na ruta 20 (conhecida como a conquista do deserto), uma região desértica e muito quente. Estávamos viajando com uma temperatura de 41º quando vimos alguns raios ao longe... Nem ligamos, mas o tempo foi fechando e uma chuva "daquelas" se preparou. Algum tempo depois, ao nos aproximarmos da chuva, a temperatura começou a cair vertiginosamente e mais ou menos em 30min estava em 20º!!! A partir daí caiu uma chuva absurda, o GPS perdeu o sinal, chuveu granizo e mais ou menos 30min depois, a temperatura voltou aos 41º...
  • Maior trecho dirigido: 1034km, entre Puerto San Julian (na volta) e Esquel.
  • Maior tempo na estrada: 15 horas, entre Puerto San Julian (na ida) e Tolhuin.
  • Acidentes: Registro aqui um fato que nunca esperei ser possível. Rodamos 11.000km em estradas argentinas e chilenas, durante 29 dias e não vimos nenhum acidente, ou socorro causado por acidente. Tal fato é ainda mais impressionante se levarmos em consideração que a fiscalização na região Patagônica Argentina é muito pequena e as retas são intermináveis, o que é um convite à altas velocidades... Talvez isto se deva à boa qualidade/conservação das estradas. Somente para comparação, imaginem quantos acidentes vemos ao rodar 1.000km aqui no Brasil. Quantos sustos temos? Temos realmente o que aprender com eles.
  • Violência: nós tivemos uma visão bem diferente da violência/segurança do que aquela com que estamos acostumados aqui no Brasil. Ligávamos a televisão ou abríamos o jornal e não havia aquele derramamento de sangue com que, infelizmente, estamos nos acostumando em nosso belo país. Durante todo o mês não soubemos de nenhum homicídio. Claro que existiram, mas não na quantidade por nós conhecida. Como vocês sabem, moramos em João Pessoa, considerada uma cidade bastante tranquila. Somente no final de semana que chegamos (equipe II), foram assassinadas quatro pessoas em um dos bairros de nossa cidade... Infelizmente, dá pena de ver que estamos vendo isto como normal.

Enfim, vimos coisas bonitas, feias, melhores e piores que aquelas que vemos em nosso país, mas o principal é: viaje e conheça todas estas coisas pessoalmente, pois somente assim você terá uma opinião realmente formada a respeito. Durante todo o ano passado lemos e estudamos bastante nosso roteiro. Já tinha visto fotos espetaculares do Perito Moreno e de Torres del Paine, mas nada que tivéssemos lido, visto ou escutado chega aos pés da sensação de estar lá. Algumas coisas são tão grandiosas que não podem ser descritas por palavras, tais coisas mostram nosso real tamanho em relação à grandiosidade da natureza e a única reação descritível que causam é um grande e impressionado suspiro...


Alessandro

Custos da Brincadeira e Hotéis - Parte internacional

A felicidade tem muitos rostos. Viajar é, provavelmente, um deles.
Entregue suas flores a quem cuidar delas e comece, ou recomece.
Nenhuma viagem é definitiva.

José Saramago


Pessoal, depois de algum tempo sem escrever, volto para cumprir minha palavra: passar as planilhas de custos, além dos hotéis por onde passamos. Confesso que ainda sinto saudades da maravilhosa viagem que fizemos, o que nos dá força para repetir a dose outras vezes, agora por outras paragens... Bem, peço desculpas pela demora na publicação dos dados, mas o tempo está bastante corrido por aqui. As fotos já estão disponíveis no Picasa, aproveitem.

O orçamento de uma viagem é, para mim, uma etapa primordial, uma vez que posso me preparar para o que virá, financeiramente falando. Assim, antes de todas as viagens, passo por esta etapa, normalmente em conjunto com aqueles que comigo viajam. Em sua elaboração, faz-se necessária muita leitura sobre os pontos/cidades a serem visitados, de forma a conhecer as peculiaridades de cada ponto, além de certo espírito crítico sobre qual o estilo da viagem que se quer fazer, pois pode-se fazer o mesmo roteiro gastando, por exemplo R$10 ou R$200 por refeição, dependendo do "estilo" dos viajantes. A leitura também é fundamental pois evidencia quais atrações serão visitadas e o custo médio das mesmas. Depois disso, é sempre bom fazer um acréscimo de 10 ou 20% nos valores orçados, de forma a deixar uma "folga" para eventuais necessidades.

Para os valores abaixo, utilizamos a seguinte paridade cambial:
  • USD 1,00 = R$ 2,40
  • 1 Peso argentino = R$ 0,70
  • R$ 1,00 = 1,40 Peso argentino
  • USD 1,00 = 3,40 Pesos argentinos
  • USD 1,00 = 600 pesos chilenos
Para unificar as moedas, e como passamos o mês inteiro fora, resolvemos utilizar o peso argentino como referência para os hotéis e passeios, de modo que os totais estarão em reais, mas os valores detalhados estarão em pesos, para dar uma possibilidade de comparação àqueles que precisarem, sem contaminação das variações cambiais.

Alimentação:

Ao fazer o orçamento de alimentação, levamos em conta uma refeição diária (além do café), reforçada por "alguns" lanches, uma vez foram vários dias de deslocamento e nestes dias o almoço atrapalha, seja pelo tempo perdido, seja pelo sono geral depois da barriga cheia, o que dá um problemão para o motorista. Já quando estávamos nas cidades, acabávamos pulando o almoço, pois andávamos quase que o dia inteiro. Na grande maioria dos dias fazíamos um café da manhã, vários lanches e um belo jantar, feito sempre em um bom restaurante. Assim, alocamos R$150 por dia e por casal, para o item alimentação. Tal valor foi suficiente e ainda comportava pequenas despesas como ligações para o Brasil, interner, etc. Ao final, chegamos ao Brasil com uma média diária de R$125,75 por casal e por dia. Meta alcançada.

Hospedagem:

Neste item a leitura que falei acima faz-se super necessária, pois podem existir cidades vizinhas com custos absurdamente diferentes. Como exemplo cito a última noite antes de Ushuaia. Iríamos dormir em Rio Grande, mas ao chegarmos lá, existiam poucas vaga e todas por mais de AR$350 por apartamento duplo... Resolvemos seguir até Tolhuin e dormimos em um hotel, às margens do lago Fagnano, por  AR$150, um achado. Assim, orçamos para hospedagem R$4.294, onde foram gastos R$4.096. Vejam agora os hotéis e seus respectivos custos:


 Buenos Aires - Hotel Suítes Catalinas

AR$280 por diária em apto duplo.  Bom hotel, em área central da cidade, bem pertinho da rua Florida e de algumas estações do metrô. Instalações antigas mas confortáveis e café da manhã modesto.

 Viedma - Hotel Austral

AR$219 por diária em apto duplo. Melhor hotel da cidade, às margens do rio, com bom café da manhã "continental". Acomodações muito boas e wi-fi um pouco lento.

 Puerto Pirâmides - La Nube del Angel

AR$380 por diária em cabana para quatro pessoas. Inicialmente, a visão da cabana é chocante, mas tendo em vista as outras acomodações da cidade, classificamos a cabana como boa...

 Puerto San Julian - Hotel Bahia

AR$250 por diária em apto duplo. Hotel bastante simpático, com wi-fi fraquinho mas computador à disposição dos hóspedes na recepção. Café da manhã bem legal. Pontos fracos: "esperteza" do gerente e espaço para banho muito perigoso.

 Tolhuin - Hotel Kaiken

AR$300 por diária em apto quádruplo. Hotel muito agradável e confortável, localizado às margens do Lago Fagnano. Não tínhamos lido nada a respeito deste hotel, foi realmente uma grata surpresa. O restaurante do hotel é muito legal, mas o café da manhã é muito, muito simples.

 Ushuaia - Cabanas Aldea Nevada

AR$450 por diária em cabana quádrupla. Uma das melhores acomodações da viagem. As cabanas são amplas, com dois quartos e camas de bom tamanho. O atendimento do pessoal do hotel é muito bom. As cabanas estão localizadas em um bosque, na subida para o Glaciar Martial. Ótima vista.

 El Calafate - Hotel Solares del Sur

AR$350 por diária em apto quádruplo. Pequeno hotel dispondo de não mais que 10 cabanas/departamentos. Tem um ótimo restaurante e uma vista absurdamente linda.

 Torres del Paine - Posada Rio Serrano

AR$560 por diária em apto quádruplo, com banheiro privado. Paine é um lugar de extremos: ou você acampa ou vai para hotéis caríssimos. A pousada é bem fraquinha e como a energia elétrica é fornecida por gerador existe racionamento. Resultado: à noite e durante alguns períodos do dia não existe energia ou calefação, o que é um grande problema. As camas são beliches e o restaurante é, vamos dizer, simples. Vá sem nenhuma expectativa para não se frustrar...

 Puerto San Julian (na volta) - Hotel Miramar

AR$180 por diária em apto duplo. Hotel bastante aprazível, localizado na orla da cidade. Acomodações muito confortáveis e internet rápida. Café da manhã simples e donos sérios (não quis dizer chatos).

 Esquel - Cabanas del Sol

AR$300 por diária em cabana quádrupla (cabem até 8 pessoas). Cabanas bem confortáveis e amplas, tendo até computador com acesso à net. Pessoal simpático e cidade bem agradável.

 Bariloche - Cabanas Prema

AR$350 por diária em cabana para até 6 pessoas. Hospedagem muito confortável, com boas camas. Staff muito simpático e disposto a dar informações locais detalhadas. Internet wi-fi com boa velocidade e computador à disposição na recepção. Vale a pena a visita. 

 Villa la Angostura - Cabana Villa del Bosque

AR$350 por diária em cabana para até 8 pessoas. Localizada em um bosque, afastado mais ou menos 3km da estrada. Pela localização, sente-se uma paz tremenda. Os únic0s barulhos vem da natureza. Boa para descançar, mas sem opções de lazer ou internet.

 Puerto Varas - Hotel Terrazas del Lago

AR$204 por diária em apto duplo. Hotel confortável com internet na recepção (wi-fi) e boas camas. Café da manhã bem simples. Ponto fraco: ar-condicionado muito ruim.

 Pucón - Apart Hotel Gualles

AR$300 por diária em  apartamento para até 7 pessoas. Localizada dentro de uma curva, é bem difícil de ver na estrada. Acomodações bem confortáveis, wi-fi de primeira e apartamentos bem ventilados.

Pucón - Cabanas Metrehue 

AR$330 por diária em cabana para até 8 pessoas. Lugar confortável, localizado dentro de um bosque e com piscina de água gelada. Em Pucón estava muito quente, daí tivemos dificuldades de achar um lugar que não "assasse" turistas... Um pouco afastado da cidade, mas vale a pena pelo preço e pelo conforto.

 Neuquem - Hotel Royal

AR$200 por diária em apto duplo. Hotel simples mas com um luxo para o local: ar-condicionado split... Super importante pois lá é incomodamente quente. Wi-fi na recepção e café da manhã bem simples.

 Santa Rosa - Hotel La Delfina

AR$190 por diária em apto duplo. Localizado na saída da cidade, o hotel é muito confortável e tem aquela palavra mágica no deserto: split... Café da manhã bastante "resumido". Hotel sem wi-fi e sem estacionamento, mas bem confortável.

 Buenos Aires - Hotel Ibis

AR$216 por diária em apto duplo. Hotel comercial mas bastante confortável. Camas muito boas e ar-condicionado excelente. Internet wi-fi em todo o hotel, caro, mas rápido. Bem localizado, o hotel fica próximo do Senado e de estações de metrô.


Quanto aos hotéis, tenho duas dicas para os viajantes: 1. Não deixe para procurar hospedagem depois do sol se pôr. Quanto mais tarde menos opções existem e maior a chance de se ficar em hotel ruim e caro... Dê preferência por iniciar o dia um pouco mais cedo para não precisar rodar à noite. 2. Pechinche, peça desconto, faça um proposta mais baixa em todos os hotéis. Na maioria deles dá certo. Afinal, em uma viagem deste tamanho, qualquer economia é bem-vinda.

Passeios

Para os passeios separamos R$900 por pessoa e acabamos por economizar um pouquinho. Gastamos R$739 por pessoa, incluindo teleféricos, parques nacionais, museus e todos os outros passeios que já falamos no blog. Aqui, novamente é primordial conhecer roteiro e os pontos turísticos de interesse.

Despesas com o Carro

Inicialmente, uma dica àqueles que vão de carro. Nas cidades que fazem fronteira com o Chile, o preço dos combustíveis é bem mais alto (alguns casos chega à 60% a mais) para carros estrangeiros. Uma forma de fugir desta diferença é abastecendo nos postos antes das cidades (onde eles existem, claro) que normalmente fazem vista grossa à determinação. Se tiver que abastecer nas cidades, procure não perguntar o preço para não chamar a atenção e torça para o frentista não lembrar de mudar o preço na bomba, pois o procedimento é todo manual.
Quando estiver nas estradas, não deixe o tanque baixar muito da metade, pois, em alguns lugares rodam-se até 200km sem nenhum posto... Há ainda o risco de chegar-se em alguns postos e o combustível (principalmente gasolina) ter acabado...
A quilometragem total foi de 21.647km, com 2.072,52 litros de diesel, uma média de 10,44km/lts. Foram gastos R$3.901 com combustível. Existiram outras despesas com o carro: Revisão dos 10.000km em Caxias do Sul, R$ 900. Troca de óleo em Puerto Montt R$480. Alinhamento e balanceamento em Florianópolis R$130.
A travessia entre Colônia e Buenos Aires, via buquebus custou R$430 na ida e R$415 na volta. Em alguns lugares, com por exemplo Buenos Aires, era cobrada taxa de estacionamento pelo carro.
Já que estamos falando do carro, rendo minhas homenagens à Kia, que fez um carro maravilhoso, nos possibilitando as boas lembranças aqui colocadas. Na Sorrento andamos muito e às vezes muito rápido, levamos algumas "pedradas" no rípio, caímos em alguns poucos buracos e passamos por duas chuvas de granizo... Ela aguentou firme, sem reclamar em nenhum momento e não nos causou problema algum nestes mais de 21.000km. Palmas à Sorrento, por favor...

Bem, desculpem o tamanho do post de hoje, mas acho que aqui tem informações muito úteis para aqueles que queiram fazer o planejamento de uma aventura deste tamanho. Novamente, coloco-me à disposição para esclarecer algum ponto obscuro ou dar informações que não estejam no blog. Fiquem à vontade.

Alessandro
alessandrorv@yahoo.com.br

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dia 07/02 - Chegada da equipe 1

Depois de 21.500km e 48 dias de estrada, a equipe 1 chega em casa pela primeira vez em 2009. A volta ocorreu com tranquilidade e foi pontuada por 3 dias de descanso em Floripa e 1 em Maceió. A saudade era grande e as histórias começaram a ser contadas desde o momento em que eles chegaram e começaram a tirar a bagagem do carro. Realmente, a viagem foi memorável, o que nos dá uma pontada de força para embarcar em novos sonhos para um futuro não muito distante.

Nos foi muito agradável literalmente viver em outro país durante todo este tempo, modelo que esperamos copiar em outras aventuras nossas. Estados Unidos? Europa? America do Sul novamente? Ainda não sabemos, mas os sonhos começaram... Isso não é um bom sinal.

Estamos atualizando os álbuns do picasa e logo logo divulgaremos as planilhas financeiras e os dados dos hotéis.

Alessandro